"LEIA E ENTENDA A MINHA SAUDADE" “SAUDADE DA CHUVA”
A CHUVA LEVE EM FORMA DE GAROA ERA CONSTANTE NAS MANHÃS
DE PRIMAVERA, DE OUTONO E ÀS VEZES NO INVERNO.
MESMO EM TEMPOS DE VERÃO, A UMIDADE DO AR, NAS
MADRUGADAS E MANHÃS NUBLADAS, TRAZIA A SENSAÇÃO DE FRESCOR SOPRADO COM
MÚLTIPLOS CRISTAIS D’ÁGUA GELADA.
ERA A GAROA INTENSA QUE NOS ENSOPAVA TOTALMENTE EM
POUCOS SEGUNDOS.
O DIA, NA MAIORIA DAS VEZES, TRANSCORRIA ENSOLARADO E
QUENTE. POR VEZES A BRISA FRESCA COMEÇAVA A SOPRAR NO SOPÉ DA MONTANHA
INESPERADAMENTE E, MUITO RÁPIDO ACUMULAVA FORÇA, SE TRANSFORMAVA EM VENTANIA
QUE AGITAVA E AÇOITAVA O VERDE DAS MATAS E DOS POMARES. A POEIRA AVERMELHADA
ACABAVA SENDO DISSIPADA PELAS PRIMEIRAS GOTAS DA CHUVA MISTURADA COM A VENTANIA
TRANSFORMANDO A TEMPESTADE EM TORMENTA TROPICAL QUE ARRASTAVA FOLHAGENS E
GALHOS SOLTOS PARA OS PASTOS DE INVERNADAS E, SÍTIOS ESCARAFUNCHADOS NAS
PEDREIRAS A BEIRA DOS CÓRREGOS E RIOS. MAS, INESPERADAMENTE O VENTO MUDAVA DE
DIREÇÃO FAZENDO RODOPIAR NO AR AS FOLHAS SECAS E A POEIRA ACUMULADA EM NOSSO
QUINTAL, FORMANDO GRANDES FUNIS DE PEQUENOS DETRITOS QUE SE ELEVAVAM
DESAPARECENDO SOBRE NOSSAS CABEÇAS.AS AVES COM AS PENAS ARREPIADAS ERAM EMPURRADAS
INSTINTIVAMENTE PARA SEUS ABRIGOS.
DE REPENTE O UIVAR DO VENTO SE CALAVA E DAVA LUGAR A UM
SONORO CANTO DAS ÁGUAS QUE CAMINHAVAM DESDE A MONTANHA PELAS MATAS EM NOSSA
DIREÇÃO. PODER-SE-IA DIVISAR CLARAMENTE ONDE A CHUVA SE DESLOCAVA TORNANDO O
VERDE DAS PASTAGENS E DAS MATAS EM DESTAQUE. LOGO A FRENTE A POEIRA LEVANTADA
ANUNCIAVA A CHEGADA DA CHUVA ABENÇOADA QUE TRAZIA ANTES O CHEIRO CARACTERÍSTICO
DA CHUVA.MINHA MÃEZINHA CORRIA PARA RECOLHER AS ROUPAS
ESTENDIDAS NO VARAL PARA SECAREM. A GENTE IA AJUDÁ-LA SÓ PARA SALDAR A CHEGADA,
MAIS UMA VEZ, DA CHUVA FORTE ACOMPANHADA DE SONORO RIBOMBAR DE TROVÕES E
RELÂMPAGOS INTERCALADOS POR ESTRONDOS ESPETACULARES. EM ALGUMAS OPORTUNIDADES
NÓS BRINCÁVAMOS DESCALÇOS E SEM CAMISAS SOB A CHUVA REFRESCANTE. SÓ GRANIZO NOS
FAZIA PROCURAR ABRIGO SOB AS TELHAS DA COZINHA DA VELHA TAPERA QUE, SE DESFAZIA
PELA EROSÃO NATURAL DAS INTEMPÉRIES E DO TEMPO AGITADO PELO VENTO FORTE DAS
CHUVAS E DE TODAS ÀS NOITES E MADRUGADAS.
EM SEGUIDA CHEGAVA A CHUVA FORTE QUE FAZIA CALAR A
TROVOADA RIBOMBANTE NA SERRA E NAS MONTANHAS.
A TÃO ESPERADA “PANCADA DE CHUVA” ACONTECIA APENAS COM
A SONORIDADE DOS IMPACTOS DOS GRANDES PINGOS COM O SOLO E DOS TELHADOS EM SEU
CAMINHO.
A MUSICALIDADE DA CHUVA AUMENTAVA GRADATIVAMENTE
REPERCUTINDO NAS TELHAS DE BARRO COZIDO, NAS CHAPAS DE ZINCO E NAS FOLHAGENS
DOS JARDINS E NOS POMARES.
NÓS, AS CRIANÇAS NOS DEBRUÇÁVAMOS NAS VIDRAÇAS DAS
JANELAS PARA OBSERVAR O TAMBORILAR DOS PINGOS D’ÁGUA NO CHÃO DE TERRA E, NAS
CALÇADAS AO REDOR DA NOSSA CASA.
EU, ESPECIALMENTE EU, FICAVA PERDIDO EM PENSAMENTOS
VÁRIOS OBSERVANDO OS PINGOS DE CHUVA MARCHAR AO NOSSO REDOR E PROVOCAR A MÚSICA
QUE ESCORRIA CANTAROLANDO PELAS CALHAS DOS TELHADOS E ENGROSSAVA A ENXURRADA NO
QUINTAL QUE ACABAVA SE JUNTANDO A ÁGUA BARRENTA DAS GUIAS E SARJETAS.
ENTÃO A CHUVA ASSUMIA A FORMA DE CHORO HUMANO E, DE
PESSOA INOCENTE, SEM RECLAMAÇÕES LÁGRIMAS E SOLUÇOS. A TROVOADA SEMPRE SE
DISTANCIAVA DEIXANDO LUGAR APENAS PARA A ÁGUA ESCORRENDO DO CÉU E ESPALHANDO-SE
PELO SOLO QUENTE E RESSEQUIDO PELO SOL FORTE, AGORA ESCONDIDO POR TRÁS DAS
NUVENS ESPEÇAS.
EU SINTO SAUDADE DA CHUVA.
GÉSNER LAS CASAS
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